6 de junho de 2011

Deus.
Sempre pronuncio esse nome, ao pensar naquilo.
Deus.
Duas vezes, eu repito.

Digo o nome Dele na vã tentativa de compreender. "Mas não é sua função compreender." Essa sou eu respondendo. Deus nunca diz nada.
Você acha que é a única pessoa a quem Ele nunca responde?
"Sua tarefa é..." E eu paro de me escutar, porque para dizê-lo curto e grosso, eu canso de mim mesma. Quando começo a pensar desse jeito, fico inteiramente exausta e não me dou o luxo de me entregar à fadiga. Sou obrigada a continuar, porque, embora isso não se aplique a todas as pessoas da Terra, é verdade para a vasta maioria: a morte não espera por ninguém - e quando espera, em geral não é por muito tempo.



Por favor, acredite quando lhe digo que, naquele dia, peguei cada alma como se fosse um recém-nascido. Cheguei até a beijar alguns rostos exaustos, envenenados. Ouvi seus últimos gritos entrecortados. Suas palavras evanescentes. Observei suas visões de amor e os libertei de seu medo.


A todos levei embora, e se houve um momento que precisei de distração, foi esse. Em completa desolação, olhei para o mundo lá em cima. Vi o céu transformar-se de prata em cinza e em cor de chuva. Até as nuvens tentavam fugir.

Vez por outra, eu imaginava com seria tudo acima daquelas nuvens, sabendo, sem sombra de dúvida, que o Sol era louro e a atmosfera interminável era um gigantesco olho azul.

Eles eram franceses, eram judeus, e eram você.
A Menina que Roubava Livros
Markus Zusak - Página 306

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