18 de outubro de 2013

Ainda tenho a imagem dos seus olhos me mirando de baixo para cima. Como um Imã. 
Atraindo os impulsos que não sou capaz de controlar. Como o mar. 
Que ora repousa calmo e convicto de sua brisa quente. Como a gente. 
Ora cria ondas capazes de invadir a cobertura de um apartamento no deserto do Qatar. 

Ainda tenho a marca de suas unhas no meu peito. Como um leito. 
Que tem seus lençóis revirados e travesseiros arremessados na parede. Como a sede.
Que esfola o tecido frágil vindo do ventre do estômago e nunca some. Como a fome.
Sinto o cheiro das suas entranhas na palma das minhas mãos.

Ainda tenho a beira dos meus ouvidos seu sussurro. Como um murro.
Que atinge o crânio na velocidade de um expresso com a pressa da salvação. Como um cão.
Que vaga em sua matilha feroz e sedento por carne crua. Como a sua...
Que devorei como se fosse um canibal.

Como, como se fosse um Canibal.

Tico Santa Cruz

Nenhum comentário: